Por Francisco Adilton de Oliveira
Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Santos


Estamos vivendo a Quaresma da Igreja, quarenta dias para bem nos prepararmos para a
Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tempo para no silêncio e na
oração, entrarmos no deserto de nossas almas a fim de identificarmos os “animais selvagens e
anjos” que vivem entre nós (Mc 1, 13). Os “animais selvagens” são as nossas paixões
desordenadas, nossos vícios, nossos pecados e os anjos são os mensageiros de Deus que nos
impelem a fazer o bem e a servir, como bem refletiu o Santo Padre, o Papa Francisco, no
Angelus do 1º Domingo da Quaresma. Portanto, a Igreja nos propõe a intensificarmos as
práticas da oração, do jejum e da esmola que é uma forma de mostrar a própria caridade, para
captarmos os pensamentos e sentimentos inspirados por Deus. Percebam que a Santa Mãe
Igreja fala em intensificar essas práticas, ou seja, ela parte do princípio de que nós já as
praticamos. Caso você meu irmão ou você minha irmã ainda não reza, não jejua e não prática a
caridade, esse é o momento ideal para iniciar e jamais deixar de fazê-lo.
Gostaria de me ater na primeira das práticas, a oração. E por que a oração? Porque sem as
graças provenientes da oração, nem fazemos jejum, nem praticamos a caridade. Santo Afonso
Maria de Ligório (1696 – 1787) conhecido como o “Doutor da Oração”, nos diz que “a oração é
o meio necessário e certo de alcançarmos todas as graças necessárias para a salvação” em
outro lugar diz o mesmo Santo “a graça de orar é dada normalmente a todos”, contudo, como
bem sabemos, infelizmente nem todos rezam e muitas vezes também, nós não rezamos o
suficiente, ou rezamos errado, ou seja, rezamos para “mudar Deus” em detrimento de
rezarmos para que Deus nos mude. A nossa oração deve nos fazer crescer nas virtudes e
diminuir nos vícios, esses são os frutos de uma oração bem realizada e essa mudança deve ser
comprovada pelos que estão à nossa volta, caso isso não esteja acontecendo, certamente
estamos rezando errado e não estamos nos valendo das condições necessárias para a oração.
Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274) conhecido como “Doutor Angélico”, elenca quatro
condições para a oração: “pedir para si coisas necessárias à salvação com devoção e
perseverança”. São Basílio Magno (330 – 379) e outros Doutores da Igreja discordam da
primeira condição “pedir para si” pois ensinam ter a oração um efeito infalível, ainda que se
reze pelos outros. Não vamos entrar no âmbito dessa discussão, nem temos competência para
isso, afinal estamos falando de Santos e Doutores da Santa Mãe Igreja. Podemos então
“misturar” os ensinamentos e obtermos as seguintes condições para a oração: pedir para nós e
para os nossos, coisas necessárias à salvação com devoção e perseverança.
Rezemos por nós e pelos nossos, mas tenhamos a ousadia de exortá-los a rezar também, pois a
oração não é para que Deus conheça as nossas necessidades, mas, sim, para que nós
conheçamos a nossa necessidade de recorrer a Deus, quem não se coloca em oração não
reconhece essa necessidade. A oração é a arma mais poderosa para vencermos os nossos
inimigos, não se servir dela é um grande perigo sob o risco de perdermos a nossa salvação. O
Senhor quer nos dar as graças que nos são necessárias para a nossa salvação, contudo não
quer as dar senão aqueles que pedirem e buscarem “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis.
Batei e vos será aberto” (Mt 7, 7). Vivemos num “Vale de Lágrimas” como rezamos na Salve
Rainha, por isso não há o que fazer senão levantar os nossos olhos a Deus e impetrar de sua
misericórdia para a nossa salvação e para a salvação dos nossos. Sejamos homens e mulheres
de oração!

As promessas divinas não foram dadas para os bens temporais, mas, sim, para todas as
graças espirituais necessárias à nossa salvação, contudo podemos também pedir os bens
temporais e deixar que Deus faça essa avaliação, se o que pedirmos for essencial, Ele vai nos
atender e caso isso não aconteça, tenhamos a maturidade na fé para entender essa negativa
como um cuidado de Deus para conosco, vejamos o que nos diz Santo Agostinho (354 – 430) a
respeito disso “Quem pede a Deus humilde e confiadamente coisas necessárias para essa vida,
ora é ouvido por misericórdia e ora não é atendido por misericórdia; pois, do que o doente tem
necessidade, melhor sabe o médico do que o doente”. Sejamos dóceis às prescrições do
Médico dos médicos!
Orar com devoção implica que a nossa oração seja humilde e confiante. Sabemos que sem a
graça de Deus nada podemos fazer de meritório, tudo que há de bom em nós provém de Deus,
se tirarmos Deus de nossas vidas sobrará somente os nossos pecados, nossas misérias, nossas
mazelas etc. Devemos nos reconhecer totalmente dependentes de Deus, mas também
confiantes, pois agrada sumamente ao Senhor a nossa confiança na sua misericórdia e quando
confiamos, honramos e exaltamos sua infinita bondade. Quantas não são as promessas que se
encontram nas Escrituras aos que esperam em Deus? Que a minha e a sua confiança não seja
vacilante, pois a nossa dúvida impedirá a misericórdia divina de ouvir as nossas súplicas. O Rei
Davi nos disse que a nossa confiança deve ser tão inabalável quanto uma montanha “O que
confia no Senhor está firme como o monte de Sião” (Sl 123,1). Sejamos confiantes!
A oração perseverante consiste em rezarmos até o último momento de nossas vidas, pois a
perseverança final é que nos dará a salvação eterna e a graça da salvação não é dada por uma
só graça, mas por uma corrente de graças que são alcançadas por uma corrente de orações.
Quando deixamos de rezar, quebramos a corrente das nossas orações e por conseguinte a
corrente de graças se quebra igualmente. Portanto meus irmãos e irmãs, não basta pedirmos a
graça da perseverança uma ou algumas vezes, mas, sim, precisamos pedi-la todos os dias até o
dia da nossa morte, sob o risco de pecarmos gravemente contra Deus e contra o nosso
próximo no dia que não a pedirmos. O Senhor em sua infinita misericórdia não nos dá a graça
da perseverança de uma só vez, para que não nos esqueçamos d’Ele, para que possamos nos
unir mais estreitamente a Ele por meio da oração e para experimentar a nossa confiança.
Desistir de rezar é desistir da salvação eterna, sejamos perseverantes!
Por fim, fiquemos com essas belas palavras de São João Crisóstomo (347 – 407) sobre o que é
a oração “A oração é ancora para os flutuantes, tesouro para os pobres, remédio para os
doentes e preventivo para os sãos”. Peço que incluam a mim e a minha família em vossas
orações e estejam certos de que já estão nas nossas. Que tenhamos uma santa Quaresma de
muita oração, jejum e caridade e que essas práticas não se limitem somente ao tempo
quaresmal, mas, sim, durante todo ano, porque o Demônio não se limita a nos tentar somente
na Quaresma, oremos! Que Nossa Senhora Aparecida, Santo Afonso Maria de Ligório, Santo
Tomás de Aquino, São Basilio Magno, Santo Agostinho e São João Crisóstomo, nos auxiliem na
missão de nos tornarmos santos. Amém!
Referências:
In: LIGÓRIO, Afonso. A Oração. Aparecida: Santuário, 1987
FRANCISCO, Papa. Quaresma ajuda a entrar no deserto interior, em contato com a verdade.
Vaticano, 18 fevereiro de 2024. Disponível em:
https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2024-02/papa-francisco-angelus-i-domingo-

4 respostas

  1. Pura verdade, pois mesmo rezando diariamente de manhã e a noite, somos tentados e passamos por tribulação, mas a Oração é que nós mantém em Deus. Amém

  2. Paz e bem!
    Quaresma tempo forte, onde encontrei nas orações diárias do Santo Rosário às 4 da manhã Quaresma de São Miguel Arcanjo em 2021o caminho para a conversão diária onde a oração é minha arma. A misericórdia divina me alcançou e acabou com anos de escuridão. Grato Adilton pela catequese e que o Espírito Santo, todos os anjos e santos continuem iluminando sua vida.

  3. Essa está sendo minha primeira Quaresma verdadeiramente católica. Não consigo mais me enxergar sem o Jejum e a Oração diária.
    É necessário reforçar sempre essas práticas, por isso, muito obrigado pela reflexão

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