Por Carlos Roberto (Carlão)
Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Santos

Podemos dizer que somos uma sociedade conectada ao mundo digital, algo que cresceu de
maneira exponencial após o período da pandemia. Pessoas que antes não tinham quaisquer
contatos com redes sociais, aplicativos de mensagens, canais por “streaming” etc.,
aprenderam, por ocasião da situação do isolamento do COVID, a estarem conectadas aos
meios de comunicação digital.
O efeito imediato disso? Ficamos mais informados. Todos os dias recebemos toneladas de
conteúdos úteis e inúteis… piadas, “memes”, “podcasts”, dancinhas, páginas de fofoca etc.
Gastamos horas e horas com o celular nas mãos, circulando entre páginas, vídeos e textos
eletrônicos.
A era da informação também se consolidou como uma época de opiniões prontas. Todos os
internautas têm explicação e certeza sobre todas as questões. Importante destacar que esse
momento de opiniões, muitas vezes sem nenhum embasamento, gera um estado de verdades
relativas e influências negativas.
As pessoas procuram assumir como “verdade” aquilo que está alinhado a sua opinião ou
experiências… o que provoca o fenômeno das “fake news”, disseminação de ideologias,
individualismo e violência. Situações que estão muito distantes da mensagem proposta por
Cristo.
Também precisamos reforçar a presença de uma certa cultura da relativização. Um movimento
que visa destruir os valores e criar modelos de pensamento com base em correntes e
modismos. Alguns meios de comunicação ofertam conteúdos duvidosos, confusos e
maliciosos.
Para olhares mais atentos é possível observar a cultura da relativização em programas
televisivos, páginas de internet, novelas, séries, reality shows etc. A doutrinação em massa de
um modelo de vida desapegado das virtudes cristãs.
Meu irmão e minha irmã, num mundo digital, o que é a verdade? E mais…como podemos
enfrentar esse relativismo?
Talvez a primeira resposta para a questão sobre o relativismo e opiniões é a busca pela
verdade através da razão (conhecimento) e da fé (revelação).
Em 1998 o saudoso e amado Papa São João Paulo II (1920 – 2005) publicou a encíclica Fides et
Ratio (Fé e Razão). O texto do Santo Papa propõe o diálogo entre a teologia (estudo e
manifestação da fé) e a filosofia (ciência da razão) com base no pensamento do teólogo e
filósofo Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274). É um texto muito importante e atemporal, vale
bastante a pena conhecer e ler.
De todo o conteúdo da encíclica, destaco para esse artigo a profunda reflexão do Sumo
Pontífice acerca da coexistência da fé e razão pela busca da verdade. “A fé e a razão (fides et
ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a
contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer
a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O,
possa chegar também à verdade plena sobre si próprio”. (Fides et Ratio)

Para São João Paulo II o primeiro ponto para a busca pela verdade é conhecer a si mesmo,
assim como nos aponta a filosofia de Sócrates (470 – 399 a.C). Quanto mais a pessoa busca e
conhece a sua realidade e o mundo em que está inserido, mais se aproxima do sentido das
coisas e da própria existência. “O que chega a ser objeto do nosso conhecimento, torna-se por
isso mesmo parte da nossa vida.” (Fides et Ratio).
Para “combater” essa relatividade que o mundo digital nos apresenta, é essencial deixar de
lado as coisas superficiais e passageiras, desapegar do modismo. E assim, como o próprio Jesus
nos ensina na passagem com Marta e Maria, focar no que é realmente importante. “Marta,
Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é
necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada” (Lc 10, 41 – 42)
Para um mundo em crise de virtudes e repleto de opiniões, o cristão também precisa
amadurecer o seu espírito e motivação através do conhecimento e sabedoria que vem de
Deus. Nesse caminho é imprescindível que tenhamos a humildade de suplicar ao Espírito Santo
a Sabedoria Divina para nos guiar frente aos desafios do cotidiano. “Assim implorei e a
inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim.” (Sb 7, 7).
Meus irmãos e irmãs, precisamos sempre nos espelhar em Cristo. Jesus pregava através de
parábolas e reflexões, mas sobretudo, pela leitura orante, atenta e reflexiva da lei. Ele
conhecia a lei e a estudava, tinha a propriedade para ensinar o povo e debater com os sumo
sacerdotes e autoridades de sua época. “Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou
impressionada com a sua doutrina. Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e
não como os seus escribas.” (Mt 7, 28-29)
O caminho para enfrentar esse exército digital do relativismo é conhecer e reconhecer, de
mente e coração, que Jesus é a Verdade encarnada que nos conduz ao coração do Pai através
da força do Espírito Santo. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão
por mim. Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o
conheceis, pois o tendes visto”. (Jo 14, 6)
Que possamos trilhar, com a inspiração do Espírito Santo, a trajetória da Verdade e da Vida, se
aproximando do essencial (conhecimento e revelação) e excluindo da caminhada o que é
acessório e nocivo para nossas famílias, comunidades e sociedade em geral. “Quando vier o
Paráclito, o Espírito da Verdade, ele vos ensinará toda a verdade, porque não falará por si
mesmo, mas dirá o que ouvir, e vos anunciará as coisas que virão.” (Jo 16, 13)
Também precisamos, como apóstolos, assumir a missão de combater esse relativismo. Dom
Leomar Antônio Brustolin (2023), Arcebispo de Santa Maria, nos alerta que diante de um
mundo marcado por ambiguidades e compulsões, somos chamados, como uma Igreja em
saída, a vencer a tentação do comodismo e anunciar que existe outro estilo de vida possível: o
do Reino de Deus.
Por fim, seguem 4 ações simples e concretas que podem ajudar no fortalecimento e
amadurecimento de nossa fé, bem como no enfrentamento ao mundo digital das opiniões e
verdades relativas:

  1. Busque programas e canais católicos (TV Aparecida, Canção Nova, Rede Vida etc.).
  2. Leia conteúdos que promovam o conhecimento e amadurecimento na fé (livros,
    textos, artigos, biografias dos Santos etc.).
  3. Procure sites e páginas de evangelização (Página da Diocese de Santos, Página da
    Igreja Nossa Senhora Aparecida, Canção Nova, Portal A12, CNBB etc.).
  4. Tenha a Bíblia como uma companheira de fortalecimento na caminhada – praticar a
    Lectio Divina (vou postar um artigo sobre essa importante prática para nossa vida
    espiritual).
    Que estejamos afastados das coisas fúteis, assuntos que não agregam e correntes de ódio; e
    cada vez mais “conectados” na rede do amor e da evangelização!
    Vamos em frente e até a próxima.
    Paz e Bem!
    Salve Maria!

Referências
BRUSTOLIN, Dom Leomar Antônio. Olhar da Fé – Uma Igreja em saída. Disponível em:
https://www.cnbb.org.br/olhar-da-fe-uma-igreja-em-saida/
PAULO II, João. Fides et Ratio. Aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre a fé e a
razão. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-
ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_14091998_fides-et-ratio.html

Alguns sites católicos:
https://www.vatican.va/content/vatican/pt.html
https://www.diocesedesantos.com.br/
https://paroquiansraaparecidasts.com.br/
https://www.cancaonova.com/
https://www.a12.com/
https://www.redevida.com.br/
https://www.cnbb.org.br/

Uma resposta

  1. Excelente reflexão. O conhecimento sobre essas situações que nos cercam já é um bom começo para enfrenta-los. Obrigada por essa partilha

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